Sobre para-raios e luzes-piloto

Foto Divulgação

 

 

Edson Martinho é engenheiro
eletricista, fundador e atual
diretor-executivo da Abracopel

Em época de tempestades com descargas atmosféricas (raios) é que lembramos que o Sistema de Proteção Contra Descargas Atmosféricas (SPDA) precisa estar em perfeitas condições para que não haja problemas. Mas antes de falarmos sobre a manutenção do SPDA, vamos deixar claro alguns conceitos que são importantes. A proteção contra descargas atmosféricas é composta pelo SPDA e pelas Medidas de Proteção Contra Surto (MPS), e ambos possuem funções diferentes.

O SPDA é uma estrutura formada por três subsistemas: captação, descidas e sistema de aterramento. O primeiro tem a finalidade de receber o raio quando o prédio é atingido; o segundo vai conduzir esse raio de forma segura até a terra; e o terceiro, irá dispersar a descarga na terra de forma segura. Os raios podem chegar a milhares de volts, e cada parte deve ser calculada de forma a garantir que nenhuma pessoa ou animal dentro da edificação (prédio, casa, comércio) sofra algum dano.

O SPDA, porém, não protege os equipamentos eletroeletrônicos, que devem ser protegidos pelas MPS, que são também projetadas caso a caso e instalando dispositivos de proteção contra surtos de tensão – DPS. É esse dispositivo que irá desviar o surto de tensão causado pela descarga atmosférica nos fios para a terra de forma segura, fazendo com que os equipamentos eletroeletrônicos sejam protegidos. Em resumo, não basta ter o SPDA no seu prédio, tem que ter o sistema completo – SPDA e MPS – para garantir a segurança de pessoas, animais e equipamentos. Esse projeto deve ser executado por profissional qualificado e com base na norma da ABNT NBR 5419.

Voltando, então, aos riscos de raios: O SPDA, como citei, é composto por captação, descidas e aterramento. O número de descidas é definido pelo cálculo de gerenciamento de risco, que levará em consideração parâmetros como altura da edificação, localização, tipo de ocupação, entre outros, e definirá todo o sistema. Há que se tomar cuidado com os sistemas simples que estão sendo oferecidos no mercado, com o argumento de que a instalação de um único captor “mágico” atrai o raio para si e uma única descida o leva para a terra. Tem outros que prometem “expulsar o raio” para longe. Cuidado! Saiba que esses sistemas não têm comprovação científica e não são permitidos pela norma brasileira.

Foto Eng. Luciano de França
Foto Eng. Pablo Guimarães
Na imagem acima, projeto
de um SPDA, com captação,
descida e aterramento; na foto, para-raios de captor único, sem comprovação científica e fora da norma brasileira

Pois bem, considerando que sua edificação possui o SPDA instalado e corretamente dimensionado, é importante verificar se a instalação está em ordem. Isso é feito com inspeção periódica, por empresas especializadas e que vão identificar se não houve alteração do sistema durante o ano, e, se for o caso, refazer o cálculo do gerenciamento de risco para garantir que fique tudo correto.

Uma preocupação comum é com a instalação de acessórios no topo das edificações, tais como antenas, sistema de aquecimento ou geração de energia solar, mastros e o sistema de sinalização aérea. Todos esses elementos devem estar protegidos pelo SPDA ou fazer parte da captação, a exemplo do dispositivo de segurança aérea com lâmpada vermelha, que normalmente tem uma estrutura metálica mais alta, destacando-se dos demais componentes. A estrutura do sinalizador deve ser equipotencializada com o sistema de captação de raios, ou seja, ligada fisicamente por um cabo de cobre ao SPDA, para que se o raio cair nela, possa distribuir a descarga elétrica pelo sistema, a qual então será conduzida em segurança para a terra.

No caso da lâmpada de sinalização, que é regulada pela Portaria Nº 957/GC3, de 9 de julho de 2015, há que se verificar se a lâmpada e seus componentes, como relé fotoelétrico, estrutura metálica, fios e cabos de alimentação estão em ordem. Avaliação e manutenção devem ficar a cargo de profissional habilitado e executadas dentro das devidas regulações, como a aplicação dos preceitos da NR-35 por exemplo, ou seja, não podem ser feitas por qualquer um. Essa regra se aplica a qualquer produto ou equipamento que esteja instalado no topo do prédio. Cabe aqui cabe um adendo: quaisquer equipamentos que forem instalados, o cálculo do SPDA deve ser refeito para verificar se não há necessidade de adequação.

A ideia desse artigo é alertar a todos que sejam gestores ou moradores sobre os riscos de um sistema de proteção contra descarga atmosférica desatualizado e, ainda, para que não acreditem em sistemas mágicos, que não cumprem o quem prometem, se baseando apenas em valores econômicos. O artigo também pretende deixar claro que o SPDA não protege equipamentos, e que deve ser projetado com as MPS adequadas.

“Investir em manutenção preventiva é investir na tranquilidade, na segurança e na valorização do patrimônio de todos.”

(Nilson Achiles Merlin, engenheiro eletricista, Merlini Engenharia)

“Estamos enfrentando muitas tempestades. O sistema de
para-raios deve estar sempre em dia para evitar danos aos
condomínios. O síndico não deve descuidar da manutenção,
que deve ser delegada à empresa especializada.”

(Ademir Ramos Moura, engenheiro eletricista, Triunfo Elétrica)

“A medição ôhmica e adequação dos aterramentos do para-
-raios, feitas por empresa especializada, garante a resistência ideal e o pleno funcionamento do SPDA. Aliada a uma instalação correta da captação e descidas, protege a estrutura do condomínio contra descargas atmosféricas com segurança e eficiência.”

(Rodrigo Henriques, diretor, Henriques Marques Engenharia)

“Carregar veículos elétricos no condomínio já é uma realidade que precisa ser encarada com muita atenção pelos síndicos. Respeito às normas técnicas e conhecimento da disponibilidade elétrica minimizam os riscos. Nessa hora um atendimento profissional e exclusivo é essencial.”

(Walter Gonçalves Junior, diretor técnico comercial, Kapplan Energy)

Matéria publicada na edição-309-mar/25 da Revista Direcional Condomínios

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Autor

  • Edson Martinho

    Engenheiro Eletricista, é diretor-executivo da Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade). Escreveu e publicou o livro "Distúrbios da Energia Elétrica" (Editora Érica, 2009).