Na estreia da coluna CondoCausos, dois síndicos experimentes, Antoniassi e Luis Lopes, relatam situações inusitadas à frente dos condomínios. Confira a seguir
“Dia a dia de síndico profissional é uma caixinha de surpresas. Administro um condomínio de classe média alta, com 17 andares e 68 unidades, na zona norte da cidade, que tem um perfil sossegado, mesmo assim, me deu um baile! Era uma sexta-feira, em meados do ano passado, e logo cedo eu fui avisado pelo zelador que um condômino havia colidido contra o portão da garagem ao tentar sair do prédio com seu veículo. Fiquei até surpreso porque o condutor não era estressado, talvez tenha se confundido com o câmbio automático. Fato é que o portão foi completamente arrancado na batida. Já no final do dia, o zelador me ligou outra vez, pois estava entrando muita água no poço de um dos elevadores privativos. A ideia inicial era enviar esse elevador para o último andar, mas o equipamento empacou ainda nos primeiros andares, exalando cheiro de queimado.

Antoniassi,
síndico profissional

Enquanto eu me dirigia para o edifício pela segunda vez naquele dia, orientei que a equipe verificasse de onde vinha tanta água.
Quando eu cheguei, já haviam identificado a unidade, mas a condômina estava não estava. Telefonamos para ela, que informou estar em viagem e nos autorizou a usar uma chave reserva que havia deixado com um vizinho, o que facilitou nosso acesso ao imóvel para tentar conter a inundação. Em geral, quando ocorre transbordamento, é por causa de um cano rompido, uma caixa acoplada com defeito, uma torneira que esqueceram de fechar. Agora, por um aquário marinho, com rachadura, é improvável. Pois aconteceu. Na sala inundada, encontramos um aquário com capacidade para 500 litros, com baixíssimo nível de água, e peixes necessitando de socorro urgente. Ligamos para a condômina expondo a situação e ela nos garantiu que providenciaria o resgate.
“Dia a dia de síndico profissional é uma caixinha de surpresas. Administro um condomínio de classe média alta, com 17 andares e 68 unidades, na zona norte da cidade, que tem um perfil sossegado, mesmo assim, me deu um baile! Era uma sexta-feira, em meados do ano passado, e logo cedo eu fui avisado pelo zelador que um condômino havia colidido contra o portão da garagem ao tentar sair do prédio com seu veículo. Fiquei até surpreso porque o condutor não era estressado, talvez tenha se confundido com o câmbio automático. Fato é que o portão foi completamente arrancado na batida. Já no final do dia, o zelador me ligou outra vez, pois estava entrando muita água no poço de um dos elevadores privativos. A ideia inicial era enviar esse elevador para o último andar, mas o equipamento empacou ainda nos primeiros andares, exalando cheiro de queimado.

Luis Lopes,
síndico profissional
“Há seis anos eu assumi a gestão de um condomínio cinquentenário, enorme, com oito torres e 2.300 habitantes em média, onde vivenciei uma situação anormal e cruel. Logo que cheguei, uma condômina se mostrou descontente. Ela reclamava de tudo, da água da piscina, do playground e, mais ainda, da limpeza. Eu sempre contra-argumentava seus apontamentos com fatos. Na limpeza, cheguei a pontuar que os funcionários orgânicos e terceirizados faziam um bom trabalho, e que o próprio condomínio era contrário a aumentar o efetivo para não ter uma despesa maior.

Na ocasião, essa senhora fazia bolos e pães caseiros para vender. Certo dia, entregou uma forma grande e pesada, coberta, para uma auxiliar de limpeza, dizendo que era para assar para a equipe. A moça levou o alimento à copa e reunida com colegas, descobriu a forma. O contentamento deu lugar a lágrimas, indignação e repulsa quando viram a massa de pão modelada em forma de rato, com orelhas, focinho e rabo.
Vale aqui um parênteses: esse condomínio abriga muitas árvores, algumas quase da altura das torres. Das próprias janelas, é possível alcançar galhos e depositar alimentos para pássaros e saguis. É como uma tradição local, mas como consequência, eventualmente aparece algum roedor atraído por alimentos que caem dos galhos, e mesmo assim, ele não circula no pavimento térreo, preferindo adentrar as garagens subterrâneas por alguns vãos criados pela construtora com a finalidade de preservar raízes de árvores centenárias. Além disso, três bueiros estão localizados dentro da propriedade, o que contribui para a presença de algum ‘invasor’.
Diante dessas condições, o condomínio adota medidas como desratização trimestral, telas em bueiros e porta-iscas para controle de roedores. Contudo, pode acontecer um caso isolado, mas não por falta de zelo com a limpeza. O pior é que antes de fazer a provocação com o pão de rato, a condômina já sabia disso tudo. Mediante à afronta, os funcionários se mobilizaram. Eu conversei com todos, individual e coletivamente, multei a condômina e marquei uma reunião de reparação entre ela e toda a equipe. E, uma dica importante: registrei e documentei todas as ações para defender o condomínio contra eventual acusação de assédio moral no futuro. Nunca se sabe. Se algo assim acontecer, ao menos haverá registros de que medidas foram tomadas, o que pode atenuar a penalidade a ser aplicada ao condomínio.”
Matéria publicada na edição-309-mar/25 da Revista Direcional Condomínios
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Jornalista apaixonada desde sempre por revistas, por gente, pelas boas histórias, e, nos últimos anos, seduzida pelo instigante universo condominial.